Os filmes ou livros que envolvam viagens no tempo ou universos temporais diferentes daqueles em que são produzidos normalmente são vistos como um produto menor, culturalmente pouco erudito. No entanto este género tem trazido obras de grande interesse e imaginação. Recentemente dois títulos chamaram a minha atenção: O filme ‘Inglorious Bastards’ e o livro ‘Barroco Tropical’ do angolano José Eduardo Agualusa. No primeiro, a fuga ao espartilho do relato fiel aos acontecimentos históricos, num filme de época, permitiu a Tarantino a liberdade de abandalhar completamente a questão, que acho que era o seu principal objetivo. O segundo, passado na Luanda do futuro próximo (daqui a 10 anos) é uma belíssima e inteligente sátira do mundo contemporâneo (aquilo que ele é e que está para ser) independentemente de se centrar na realidade angolana.
Fugir ao contexto em que vivemos que conhecemos (temporal, físico e humano) permite-nos olhar para ele com uma visão menos apaixonada e portanto com um sentido crítico mais apurado. De certa forma, ao vermos criticada diretamente a sociedade do nosso tempo, as personagens que conhecemos (e pelas quais temos, quer queiramos quer não, simpatia ou ódio) num espaço físico que é o nosso sentimo-nos também nós criticados ou ridicularizados. Ao fugir do nosso contexto ficamos mais abertos às críticas, até porque os paralelismos entre o nosso mundo e um mundo ficcionado podem pôr-nos um sorriso na cara. Na trilogia ‘Regresso ao futuro’ não deixa de ser engraçada a cena em que o cientista louco, exilado no faroeste de finais do séc. XIX, tenta convencer os cowboys da época de que em menos de 100 anos o homem iria à lua e de que correria simplesmente por prazer e não porque tivesse de fugir de alguma coisa. Também a cena em que Marty McFly (para quem nunca viu os filmes é o herói) cai no ridículo ao explicar, em 1955, que o presidente dos EUA 30 anos depois seria Ronald Reagan (em 1955 Reagan era um simples ator) mostra como aquilo que é uma realidade hoje pode ser completamente fora de sentido ontem ou amanhã.
Dentro deste estilo há um filme que eu não consigo deixar de ver, sempre que apanho na televisão: ‘Homem demolidor’ (‘Demolition man’ no seu título original). Apesar de ser um banhadão à inicio dos anos 90 (o filme é de 1993) de porrada, protagonizado por Silvester Stallone e Wesley Snipes e passado 2032, o filme é uma deliciosa sátira que me arranca gargalhadas do princípio ao fim. Das várias cenas que são vagamente proféticas decidi realçar a do vídeo que publico anexo a este texto. Nesta cena os grandes sucessos das rádios de 2032 seriam os jingles publicitários do séc. XX, pelas melodias engraçadas e que ficam facilmente no ouvido. Se olharmos para os dias de hoje já não estamos tão longe assim dessa realidade parodiada. Os links anexos são referentes a 2 dos muitos blogues que existem sobre anúncios, jingles, aberturas de desenhos animados e outros programas de tv antigos, que cristalizam uma cultura saudosista assente em duas vertentes: ver os anúncios, jingles e músicas da nossa infância porque eles trazem-nos nostalgia de um tempo que vivemos mas já passou. Ver anúncios e jingles do passado simplesmente porque são engraçados e transmitem uma sensação de ingenuidade por comparação com os dias de hoje. Este segundo caso efetivamente corresponde à figura parodiada no video anexo.
Será que o futuro é , como defende uma personagem deste ‘Demolition man’, “a 47-year-old virgin sitting around in his beige pajamas, drinking a banana-broccoli shake, singing "I'm an Oscar Meyer Wiener"”?http://nostalgia.kazulo.pt/2551/anuncios-tv.htm
http://velhosanuncios.blogspot.com/
Por Rocha
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