Com este desfecho perdeu-se a oportunidade de termos um grande Parque Urbano (nas figuras dá para entender a dimensão do parque proposto por comparação com o Parque Eduardo VII) numa zona que tendo sido de expansão durante o século XIX e início do século XX, é hoje uma das mais centrais de Lisboa.
Como este projeto existem inúmeros casos em Lisboa de grandes planos e projetos que por motivos diversos não saem do papel ou são parcialmente executados ou acabam por ser versões adaptadas e coxas de ideias de grande impacto. Temos casos destes que já veem de há séculos atrás, como o Palácio Nacional da Ajuda, ou outros casos mais recentes como o Plano da Costa do Sol, os diversos planos para a Costa de Caparica ou o novo aeroporto. Nos últimos 30 anos esta lista aumenta e qualquer projeto que implique uma solução menos ortodoxa, de grande impacto provoca logo apaixonada discussão e movimentos contra a sua construção. Polémicas como a das Amoreiras, Centro Cultural de Belém, terminal de contentores, túnel do Marquês e as suscitadas sempre que se propõe um arranha-céus mostram uma resistência (será mesmo medo?) visceral à mudança que na verdade traduz uma cultura de participação pobre.
Limitar o nosso papel na construção coletiva da nossa cidade a dizer não a qualquer iniciativa arrojada e com capacidade de a transformar é um exercício democrático pobre, infantil e principalmente perigoso. Se continuarmos a seguir este caminho fácil não tardará o dia em que alguém diga que se o poder democrático só serve para impedir que se faça em vez de servir para fazer, então não serve para nada. A nossa democracia atingiu uma maturidade que não pode permitir que estes grandes planos e projetos continuem a ser exclusivamente fruto da iniciativa e teimosia de personagens, como o Marquês de Pombal, Ressano Garcia, Duarte Pacheco, com uma aura autocrática e normalmente apoiados por regimes não democráticos.
A grande vantagem que temos, nos dias que correm, é que cada vez dependemos menos dos media. Qualquer um de nós pode informar-se, consultar 3, 4, 1000 fontes diferentes, de diferentes espectros, tirar as nossas próprias conclusões e ter a nossa posição sobre determinado assunto. Só assim podemos participar de uma forma honesta e inteligente na construção de uma cidade e sociedade mais competitiva e desenvolvida.
Quando voltamos de Nova Iorque ou Madrid, fascinados com o Central Park ou com o Parque do Retiro devemos lembrar-nos de que também nós tivemos oportunidade de ter algo semelhante em Lisboa, e que está na nossa mão aproveitar oportunidades como a que perdemos no caso do Parque Urbano do Campo Grande.
Bibliografia: ‘Lisboa de Frederico Ressano Garcia 1874-1909’, direção de Raquel Henriques da Silva, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian com apoio da Câmara Municipal de Lisboa, maio/abril de 1989.
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