Gostava de voltar ao tempo em que comprava
Livros de poesia
Para conhecer poetas novos,
E palavras novas,
Formas de sentir, de falar, de ler, de escrever
E sentir como aqueles que compram livros de
Poesia.
Em vez de comerem asas de andorinha com
Manteiga,
Ou bife rosa
De pernas queixosas mas tenrinhas,
Em que se tira facilmente a gordura do
Vestido.
Queria voltar.
Queria voltar ao tempo em que deixei
De comprar livros de poesia
E comecei
A sentir, a falar, a ler, e a escrever
O sentimento daqueles que compram livros
De culinária
(e livros de poesia).
E depois voltar ao tempo em que deixei de fazer tudo isso.
Voltar a ser todos nós. Voltar a dar voltas até ficar tonto.
Voltar até a engasgar-me com as perninhas. E não voltar mais.
Fartei-me de ler. Fartei-me senhor doutor, não volto mais.
Já não posso escrever entre refeições,
Porque são os intervalos das outras refeições,
Que servem apenas para sentir fome outra vez.
Quero voltar aos tempos dos enigmas:
Chove, e chove no cartaz mal iluminado
Pela minha saudade,
O cartaz diz:
Amanhã será o dia!
E o agora? O agora…
Merda, o agora
Que não volta mais.
O agora que não tem cu, nem fronha,
O agora que fala ao mesmo tempo que cala
E não volta naquele tom ou boca,
Porque é a introdução aos desejos das voltas.
O agora como um pedestal de um carrossel,
Ou a inauguração de uma rotunda.
O agora do avesso e do arremesso.
O agora – para ir ter contigo agora,
Para estar comigo até depois,
Traindo o quando te disse que não
Voltava mais.
E depois dizer: e agora?
Como quem
Deseja voltar ao tempo em que
Comprava
Livros de poesia.
Por Sérgio – Março 2011
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