Acordo.
Sinto-me uma folha dobrada no canto
De um livro.
O livro é segunda-feira.
No jornal leio sobre o
Naufrágio,
Ou seja, sobre a bebedeira que apanhei ontem à noite.
Um morto, um sobrevivente, um ferido, uma
Grande dor de cabeça, e as buscas continuam.
Com uma compaixão miserável desejo boa sorte.
No bolso de trás, um papel,
Colado ainda à cara babada.
Será bilhete de amor?
Não.
Apenas conta de bar. Uma
Grande conta de bar: uma bárbara. Dessas
Bipolares, babadas por mim – (dormiu
Comigo) – eu causo essa boa impressão
A uma conta de bar:
Números e mais números
E mais números lindamente impressos.
Bebidas, ou numerosas bebidas, ou bebidas numeradas,
Tinta para as veias:
Matemática subcutânea
Com um hálito tremendo.
Que pouca correcção! Mas somar ela
Sabe, ainda se fosse como eu:
A soma subtrai-me, multiplicando-me,
E todas as receitas dividem-se quanto à instituição de apoio,
A maior parte reverte a favor
Da exclusão poética.
Ah! Maldito pescoço: ponte
Entre dois mundos – foste guilhotinado
Ontem, cortaram-te a língua não foi?
E por isso hoje vingas-te
Imitando girafa,
Trampolim da minha dor de cabeça,
Que se cola às paredes frias.
O café consegue apagar as manchas do
Jornal – ainda chove, vai chover todo o dia.
O telemóvel tatuou os nomes de quem
Liguei,
Ligou-os aos braços e às pernas:
Ligaduras do saldo negativo.
Nomes estranhos,
Nomes novos.
Duas chamadas
Esta manhã não atendidas:
Uma dela
E mais uma
Da santa da minha mãe.
Santo saldo positivo.
Abril 2011
Sérgio Coutinho
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