1 de maio de 2011

A campanha eleitoral

   Recentemente o Primeiro Ministro apareceu em direto nos principais telejornais do país minutos antes de oficializar o pedido de ajuda financeira de que tanto se fala. Nessa falsa partida vimos o PM a preparar-se para falar ao país tentado perceber em que ângulo ficava melhor nas câmaras, facto que causou a indignação de muitos e motivou piadas durante semanas. Não percebo porquê. Apesar de ter achado curioso ver aquele momento ‘behind the scenes’ do nosso PM achei a coisa mais normal do mundo ele tentar perceber como fica melhor ‘na fotografia’. Só por ingenuidade ou demagogia podemos pensar que qualquer imagem, vídeo, discurso ou panfleto político não são trabalhados ao milímetro para nos transmitir determinada sensação sobre o candidato ou partido em causa.
   Da mesma forma que no tempo de D. Afonso Henriques as lideranças políticas se conquistavam literalmente na base da pancadaria ou durante o século XIX na base do poder da oratória, hoje em dia a liderança política conquista-se através dos dotes telegénicos e de como a imagem dos políticos é trabalhada e difundida através dos meios de comunicação. É algo que já se faz pelo menos desde a Alemanha Nazi, ou seja há pelo menos 70/80 anos.
 Sabendo que Sócrates trabalha, desde as últimas legislativas, com a equipa que tratou da imagem do Presidente Obama não podemos pensar que num direto ao país o modo como o PM se apresenta não é cuidadosamente pensado. Não me espanta, aliás, que nessa comunicação Sócrates tenha falado olhando diretamente para a câmara, através do teleponto. Essa posição está de acordo com a imagem que tem querido passar do grande líder, salvador da pátria que encara os momentos difíceis de frente. Toda a narrativa de Sócrates, desde há uns meses, tem-se centrado na sua pessoa. Cada vez menos se ouve sair da sua boca a palavra ‘nós’ e cada vez mais a palavra ‘eu’. Cada vez mais vemos imagens de Sócrates no meio de uma multidão que o segue enquanto estadista, que através da sua determinação vai tirar Portugal da crise. Se ganhar as eleições, cumprir mais 4 anos como PM e durante esses 4 anos sairmos desta embrulhada em que estamos temos aí um ditadorzinho em potencial.
   Passos Coelho parece ter um aparelho menos profissional a trabalhar a sua imagem. Ou se calhar é isso que nos quer vender. Depois do falhanço que foi a integração de Fernando Nobre nas listas do PSD (será talvez cedo para considerar um falhanço…) o candidato a PM tentou reaproximar-se do eleitorado mais conservador com uma mensagem de Páscoa em que utiliza a sua mulher (coisa rara na nossa política) para transmitir a ideia de um homem de família que tem outras prioridades na vida que não a vertigem do poder, por oposição ao obcecado e isolado Sócrates. Para mim fez mal, está a definir demasiado a sua imagem em função do adversário. Se estivesse no lugar do PSD apostava em assumir Passos como a figura central da campanha, impondo a sua personalidade e transmitindo a ideia do homem que faz e acontece. Em vez da mensagem de Páscoa do homem de família, conservador, em casa, fazia lembrar as pessoas que este homem já teve uma vida amorosa com uma das Doce e que apesar de ser de direita tem uma mulher mestiça, ou seja uma imagem mais ‘popstar’ e populista do homem.
   O que vai ficando por falar nesta campanha de personalidades é o conteúdo dos programas de cada partido, mas isso infelizmente já vai sendo um hábito.
   Vem aí um mês de debates, vamos ver no que vai dar…


Por Miguel Rocha

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Política numa rede social já ! Governo 2.0

    A guerra tornou-se estética (lembre-se os mísseis à noite na Guerra do Golfo), bem como a política (o Presidente Cavaco muito popularucho a acenar da marquise quando foi eleito).

    Já que a realidade se enfeita, crie-se então uma nova realidade para a política.

    Desnude-se todo o processo: transparência, cidadania, interactividade.

    Eis alguns videos sobre o governo 2.0:
    http://nolugardocabelo.blogspot.com/2011/03/governo-20-transparencia-cidadania-rede.html

    Por Sérgio Coutinho

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