Nota: Falas de Mustafa Mond (a negrito) retiradas de Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley
- Mustafa, esta geração está perdida. Jovens incapazes de articular uma frase ou de encadear um raciocínio lógico. Seguem as suas vidas ridículas, conformando-se com o que a vida lhes reserva e nada fazendo para mudar a sua situação. A população no futuro, com uma ou outra excepção, vai ser constituída por imbecis.
- A população óptima deve obedecer ao modelo do iceberg: oito nonos abaixo da linha de flutuação, um nono acima da linha.
- Talvez. E sendo a população futura como um iceberg, pode ser que derreta! Vamos ter uma população aguada… Mas será isso óptimo? Como é que os estúpidos, estando em maioria, aceitariam viver abaixo da linha de flutuação? Poderiam ser felizes assim?
- Mais felizes que os de cima!
- Não! Um indivíduo estúpido nada mais pode ambicionar que uma vida estúpida! Uma vida sem qualquer estímulo intelectual! Um emprego monótono e sem qualquer desafio: Horrível!
- Horrível? Mas essa não é a opinião deles. Pelo contrário, agrada-lhes. É leve e de uma simplicidade infantil. Nenhum esforço excessivo, nem para o espírito, nem para os músculos.
- Bah! Cambada de inúteis. A civilização óptima para mim é uma civilização em que, em cada homem, exista um espírito nobre e, em cada gesto, um acto heróico.
- Meu caro amigo, a civilização não tem a menor necessidade de nobreza ou de heroísmo. Essas coisas são sintomas de incapacidade política.
- Porquê?
- Numa sociedade convenientemente organizada, ninguém tem oportunidade de ser nobre ou heróico. É necessário que as coisas se tornem essencialmente instáveis para que semelhante ocasião se possa apresentar.
- Então que a sociedade seja instável! Não quero uma sociedade convenientemente organizada! É um espectáculo deprimente assistir à degradação intelectual das novas gerações. Jovens amorfos, conformados e sem reacção, incapazes de lutar para defender qualquer coisa! Incapazes de se questionar! Incapazes de se inquietar! Não se pode ser verdadeiramente feliz assim.
- É evidente que a estabilidade, como espectáculo, não chega aos calcanhares da instabilidade. O facto de se estar satisfeito não tem nada do encanto mágico de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de um combate contra a tentação ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.
- Ora, Mustafá, o que dizes não se escreve!
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